Há cada vez mais estacionamentos com pontos de recarga para veículos elétricos. A lógica parece convincente: Aproveite para recarregar as baterias do veículo quando estiver parado no supermercado, shopping center ou aeroporto, enquanto o cliente vai às compras, ao cinema ou viaja. Com a instalação de pontos de recarga no Parking, a expectativa é atrair mais clientes para o negócio, diferenciar-se dos concorrentes e demonstrar o compromisso do negócio com as tecnologias do futuro e com a proteção do meio ambiente.
Mas como funciona isso na prática? Acompanhe-nos em nossa visita aos centros comerciais mais relevantes da zona leste de Santiago do Chile para vê-lo em terreno.
Veículos elétricos e a infraestrutura que precisam se tornaram um tópico muito popular. O Chile não está ficando fora dessa tendência, sendo o exemplo mais recente disso o acordo assinado entre Walmart e Colbun há poucos dias. O varejista - além de adquirir exclusivamente energia renovável para suas operações no segmento de clientes livres - vai instalar 9 pontos de recarga de carros elétricos em seus supermercados no Chile.
Os planos para promover a eletromobilidade no país são ambiciosos. No início do ano, Enel anunciou a instalação de 1.200 pontos de recarga públicos em todo o Chile até 2024. A realidade atual está ainda mais modesta. De acordo com Electromaps, o Chile tem atualmente uns 100 pontos de recarga públicos em perto de 60 lugares.
Quantos carros elétricos existem no Chile? Nos últimos 10 anos, perto de 600 veículos 100% elétricos - ou seja, excluindo híbridos - foram vendidos no país (ver fonte), com o Hyundai Ioniq e o Nissan Leaf sendo os mais populares. Considerando que no Chile circulam uns 5,5 milhões de veículos no total, os carros elétricos somam pouco mais de 0,01% desse total, uma porcentagem ínfima. Ou seja, um grande shopping center com fluxo médio de 10.000 carros por dia não receberá mais de 1 ou 2 carros elétricos por dia.
Sem dúvida, esses números vão crescer, mas provavelmente será um longo caminho até que os carros elétricos constituam uma porcentagem relevante da frota de veículos no Chile. Mesmo na Alemanha - país mais avançado em termos de eletromobilidade e com incentivos fiscais significativos para carros elétricos (bônus de vários milhares de euros na compra e redução do IPVA a zero por até 10 anos) - menos de meio por cento do total de veículos em circulação são 100% elétricos (no início de 2020 perto de 150 mil em um total de aproximadamente 47 milhões). A previsão da Enel, de que em 2024 poderia haver cerca de 80.000 carros elétricos no Chile, parece muito distante.
OS AEROPORTOS DA REGIÃO - Embora veículos elétricos e pontos de recarga tenham grande presença nos aeroportos europeus, a situação é diferente na América do Sul. Dos 10 maiores aeroportos da região, apenas dois oferecem este serviço aos seus clientes de Parking. Em Congonhas há pontos de recarga no estacionamento da operadora Estapar e em Ezeiza há um ponto de recarga ChargeBox. Guarulhos instalou recentemente pontos de recarga para carros elétricos no estacionamento, porém, eles não são de livre utilizacão, mas exclusivos para a frota de um serviço de aluguel de carros elétricos. Nuevo Pudahuel em Santiago e El Dorado em Bogotá anunciaram planos para instalar pontos de recarga, mas resta saber se esses planos sobreviverão o forte impacto da pandemia no fluxo de passageiros e veículos. Os aeroportos de Lima, Brasília, Cidade do Panamá, Rio Galeão e Aeroparque não oferecem pontos de recarga em seus estacionamentos.
Na nossa visita a terreno, encontramos pontos de recarga de veículos elétricos nos estacionamentos dos shoppings Costanera Center, Parque Arauco, Open Kennedy, Mall Plaza Los Domínicos e Vivo Los Trapenses. Também no strip center Paseo Los Domínicos em San Carlos de Apoquindo. Outros shoppings importantes do setor - como Casa Costanera, Alto Las Condes e Portal La Dehesa - não oferecem o serviço de recarga de veículos elétricos aos seus clientes.
A tabela a seguir resume o que encontramos.
Os resultados não geram muito entusiasmo. Em nenhum dos centros comerciais existe uma boa sinalização que permita ao cliente encontrar facilmente os pontos de recarga. Os carregadores de Open Kennedy não aparecem no mapa da Associação de Veículos Elétricos do Chile (AVEC) e o andar está mal indicado no mapa da Enel X. Os pontos de recarga de Mall Plaza Los Domínicos estão faltando no mapa da Enel X. Paseo Los Dominicos não existe em ambos mapas.
Nos 5 imóveis que visitamos, os espaços com carregadores são exclusivos para carros elétricos e encontram-se em locais preferenciais do estacionamento, perto do acesso ao centro comercial. A exclusividade para veículos elétricos de 2 ou 4 vagas bem localizadas não é um problema em grandes estacionamentos, mas sim é complicado em um strip center como Paseo Los Domínicos, onde o estacionamento muitas vezes já fica lotado. Neste contexto, para o cliente que não encontra lugar para estacionar, os pontos de recarga deixam de ser um sinal do compromisso da empresa com o meio ambiente e se tornam simplesmente um aborrecimento.
Nenhum dos estacionamentos que visitamos faz muito esforço para permitir ao cliente um uso fácil do ponto de recarga. No Parque Arauco, o cliente precisa primeiro caminhar até o módulo do operador de estacionamento e deixar sua carteira de identidade para receber o cabo de conexão. No final do processo de recarga o mesmo processo: voltar ao módulo do operador, devolver o cabo e retirar o ID. Complicado demais. De qualquer forma, o serviço está suspenso devido à pandemia.
A situação no Mall Plaza Los Domínicos não é muito diferente. Também aqui, o procedimento de utilização dos pontos de recarga parece concebido para afastar os clientes, em vez de os atrair. Antes que o carregador possa ser usado, ele deve ser liberado pelo atendente do estacionamento. Para isso, o cliente avisa por interfone, e uma operadora tem que descer fisicamente do escritório - localizado um andar acima, na outra extremidade do prédio - até o carregador para liberar seu uso.
No Costanera Center é um pouco mais fácil para o cliente, porque os cabos de conexão já estão colocados na coluna de recarga. No entanto, a coluna está inclinada - talvez causado por um choque, já que o ponto de recarga não possui proteções laterais - e a tela está sem funcionar.
No Open Kennedy, o trabalho de construção é mais importante do que o atendimento ao cliente do Parking - uma das duas vagas para carros elétricos foi convertida em depósito para materiais de construção.
En Vivo Los Trapenses, el guardia de Parking es muy amable pero no sabe entregar mayor información de cómo utilizar la columna de carga, y explica “Nunca he visto que se utilice …”.
O Paseo Los Domínicos parece ter negociado um desconto muito bom com a Enel, porque as instruções na coluna da recarga são exclusivamente em italiano.
Outra oportunidade de melhorar a experiência do cliente está no modelo do ponto de carga que se usa. Costanera Center, Parque Arauco e Mall Plaza funcionam com carregadores de 7kw. Com essa potência, leva 4 horas ou mais para carregar totalmente um Nissan Leaf ou Hyundai Ioniq. Só no Open Kennedy e Vivo Los Trapenses o cliente encontra carregadores de 22kw que lhe permitem também aproveitar estadias de 60 ou 90 minutos para recarregar bem as baterias do seu veículo.
Resumindo, nenhum dos Parkings visitados passa com boa nota no teste de electromobilidade, nenhum dos centros comerciais presta um serviço de excelência aos seus clientes com veículos elétricos. A mensagem "somos uma empresa comprometida com as tecnologias do futuro e com a proteção do meio ambiente" se perde com uma operação mal executada. Os clientes e o meio ambiente merecem algo melhor.
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